E vamos a parte final da entrevista:
PAPA: Você disse que ficou de tres a quatro meses sem jogar depois do nacional. Ainda assim você é o primeiro colocado no ranking DCI. Como o ranking analisa quantas partidas você joga e como você administra suas derrotas, isso não é uma tática sua para se manter em primeiro lugar no DCI? Eu vejo por mim, já subi até vigesima colocação e já cai até nonagésima, hoje estou em trigésimo alguma coisa, mas eu de fato jogo muito e sempre valendo pelo DCI. Quando você joga muito é muito dificil de se manter bem posicionado, por que na verdade é dificil vencer sempre. Será que o Paladine na verdade não estaria se preservando?PALADINE: Na verdade, foi um tempo que eu precisei para voltar a ficar de boa. Estranhamente a vitória no segundo brasileiro não havia sido boa como no primeiro. Fiz inclusive algumas discussões dentro do clã a respeito e meus amigos ajudaram bastante. Nessa onda, eu meio que declarei que não iria por um bom tempo organizar ou ser árbitro dos campeonatos de Belo Horizonte. O que acabou acontecendo é que os outros jogadores daqui não tinham essa estrutura e nenhum outro campeonato voltou a ser reportado.
Certo dia, eu cheguei a uma conclusão parecida. Era muito cômodo estar mal e não reportar os campeonatos que eu não ia bem. A verdade é que eu não mereço estar no topo do ranking. O ranking privilegia justamente quem chega ao topo e pára de jogar. Tendo noção disso, decidi nunca colocar na assinatura meu atual ranking na DCI. Só coloco coisas relacionados a vitórias do clã, mas nada a meu respeito. Inclusive o clã decidiu usar na assinatura o ranking DCI para incentiva-lo, mas expliquei minha posição e não o uso. Prometi usar, quando sair do primeiro lugar.
Já combinei que voltarei a organizar os campeonatos de BH e se eu continuar na minha atual condição é bem capaz de eu sair do top 10 em uns 2 campeonatos, mas ao menos isso irá refletir a verdade. Apesar que gostaria de deixar claro que já participei de dois campeonatos oficiais após o brasileiro. Fiquei em vice em ambos. Realmente quando você está muito bem no ranking, você costuma perder pontos ao ganhar 3 de 4 partidas. Cada derrota conta muito negativamente.
PAPA: Você esperava se tornar bi-campeão?PALADINE: Não, realmente não. No primeiro brasileiro, eu era um cara desconhecido que era de fora do eixo rio-são paulo, então o fator surpresa me ajudou muito a ser campeão. Além disso, minha preparação para o primeiro campeonato foi muito hardcore. No segundo campeonato, todos já sabiam que eu era o campeão, então eles já sabiam o que esperar de mim. Além disso, meu treino havia sido bem menor que no outro ano. Eu cheguei numa atitude de “não fazer feio”. Passar a faixa adiante, mas dificultar para o cara. Tipo fazer o cara merecer ser campeão.
Foi engraçado que ao menos 3 pessoas parecem ter sentido o peso de enfrentar o “campeão”. Eram pessoas que jogavam melhor que eu, que estavam mais preparados, mas que ainda assim jogaram muito mal contra mim. Esse foi realmente um fator que eu não considerei. Como falei, eu nunca achei que ser campeão de um me daria mais chances de levar o outro, mas acabou ajudando (risos).
PAPA: Bom todos sabem da disputa entre clãs, e de como atualmente os Silver Lords se encontram disparados na Arena/Liga, é verdade que ela esta desativada, mas como um dos novos moderadores do Fórum D20miniaturas posso abrir de antemão que ela logo será reativada. Na verdade também devo dizer que nesse ponto os Silver Lords fizeram um ótimo trabalho sobre as novas regras da Liga/Arena. Mas seu comentário me faz pensar em uma coisa. Existe trabalho de equipe entre os Silver Lords? Afinal ainda está claro na cabeça dos brasileiros a imagem em que Rubens Barrichello deixa Schumacher passar e ganhar os louros da vitória. Você acredita que houve facilidades para você vencer o segundo torneio?PALADINE: Na verdade, há uma espécie de rivalidade sadia dentro do clã. Shivan e Sandman são adversários em vários torneios e alternam muitas vitórias em São Paulo. O mesmo acontece entre eu e o X por exemplo. E na verdade ele foi justamente o primeiro Silver Lord que enfrentei e no bendito top 32. Ambos ficamos muito tristes, pois queríamos ir bem e só nos pegarmos o mais longe possível. Aconteceu até algo muito legal. Pouco antes de iniciarmos o jogo, eu lhe disse “Vamos prometer que quem ganhar essa partida vai ser campeão brasileiro”. Ele ficou meio pasmo, mas sorriu e prometeu. Acabou dando certo.
O segundo Silver Lord foi o Spy no top 8. Ele também tentou ao máximo me vencer e acabei vencendo mais pelo meu time ser forte contra o dele, ou em resumo, os dois Silver Lords que enfrentei fizeram de tudo para me vencer e isso apenas valorizou a minha vitória. Não tenho a menor dúvida que em nenhum momento alguém pensou em me beneficiar.
No geral, temos um trabalho de equipe sim, mas nada semelhante a isso, mas apenas ajuda entre amigos. Tipo alguém posta um warband e os outros postam suas críticas. Fazemos análises de adversários perigosos de outros clãs e que tipo de warbands ele costuma usar, quem souber posta um pouco das estratégias desses adversários e afins. Também jogamos muito uns contra os outros, nos ajudamos no treinamento e discutimos muito a respeito. Em ambos brasileiros, o fato de eu ser um Silver Lord ajudou bastante a alcançar a vitória.
Finalmente, nosso clã já foi ainda mais focado em vencer (difícil de acreditar né?). Caramba, éramos sangue no olho de uma maneira até meio exagerada. Hoje em dia o clã se tornou um lugar de amigos, que gostam da mesma coisa. Felizmente são amigos que gostam de ser competitivos e se ajudam nesse sentido. Realmente ficamos tristes, pois a maioria dos clãs já não é mais competitivo como antes. Sem pedradas por favor! (risos).
PAPA: Qual a principal diferença dos dois campeonatos que disputou? PALADINE: A maior diferença para mim foi no nível dos jogadores. No primeiro brasileiro, o hobby ainda estava ganhando adeptos e muita gente ainda estava aprendendo a jogar, logo podíamos contar em uma mão os jogadores de qualidade (inclusive me excluo dessa lista). Já no segundo, o hobby já estava bem mais firmado e vimos MUITOS jogadores de qualidade do eixo rio-são paulo e vários outros do restante do país. Certamente tínhamos mais de uma dúzia de pessoas com efetivas chances de vencer o campeonato.
Esse inclusive era outro motivo pelo qual eu achei que não iria ganhar. Era muita gente de qualidade. Em especial, eu destaco três grandes jogadores: Valek (Hélio), que era considerado por muitos o favorito para vencer o segundo brasileiro; Cyman (Ettore), que apesar de novo era para mim o melhor jogador do Brasil e o X (Vítor), colega de Belo Horizonte que sempre me surrou nos campeonatos regionais de minas. Têm muitos outros como Shivan (Ângelo), Sandman (Fábio), Júnior, Lak Keller (Luiz), Avatar (Ronei). Fica até difícil de citar tanta gente boa que tinha nesse campeonato.
PAPA: Eu to fazendo a entrevista e o cara tem a cara de pau de esquecer de mim! Tudo bem que não fiquei entre os oito primeiros...hehehe. Mas isso é preconceito com o pobre povo do sul! Mas me diga então, se você acha que não deveria ter vencido o campeonato nacional, quem ENTRE os jogadores que você citou em sua opinião deveria ter sido o campeão. Escolha apenas um nome dentre eles.PALADINE:(risos). Sem querer ofender, mas realmente você não estava na minha lista de adversários top, mas se bem me lembro foi muito bem com seus dragões e com um time que não estava totalmente dentro do metagame. É importante lembrar que só venci o primeiro campeonato brasileiro, porque me subestimaram, então eu nunca subestimo ninguém. Eu só tinha certa noção de quem eram os melhores jogadores do país e estava com mais cuidado contra eles. E nada contra os jogadores do sul até porque o Júnior ficou em quarto lugar e o Spy entrou para o top 8. E sempre acho bacana, quando alguém de fora do eixo manda bem, porque isso valoriza ainda mais a vitória.
Agora, se eu tivesse de escolher um jogador eu escolheria o Cyman. Dizem que jogando ao vivo, ele às vezes se desesperava e cometia alguns erros. O cara era novo e se deixava intimidar, saca? Eu nunca joguei ao vivo contra ele, mas apenas no vassal. E foram as derrotas mais humilhantes na preparação para o brasileiro. Para cada jogada que eu fazia, ele tinha uma contrajogada melhor. Realmente numa partida isenta de sorte, acho que seria muito difícil de vencê-lo. Inclusive fiquei muito triste, quando soube que ele perdeu, pois eu sabia que ele era o melhor jogador dali.
PAPA: Teve um momento no campeonato em que você pensou que não conseguiria ganhar?PALADINE:É difícil responder isso. O meu objetivo era apenas chegar no top 8. Conseguir isso já me deixaria satisfeito, então na prática não estava pensando em como vencer o campeonato. Estranhamente o momento que achei mais difícil foi justamente depois da primeira rodada, na qual fui derrotado. Pensei que não ia me classificar para o top 16 e ia fazer feio. No restante, posso dizer que não cheguei a achar que não ia dar certo.
Pelo que respondi na pergunta acima, eu tive um receio especial quando enfrentei o X, que havia vencido 5 dos 7 campeonatos que disputamos juntos e de enfrentar o Valek, que chegou como favorito para o campeonato. Eu diria que eu não os venci, mas que eles perderam para mim, pois realmente jogaram mal contra mim. O jogador que eu mais temia enfrentar era o Cyman, mas ele acabou saindo do campeonato numa partida anormal de muita sorte do adversário.
PAPA: Recentemente pelo Forum Brasilminis tive o prazer de entrevistar Guy Fullerton e ele me disse algo que ficou gravado em minha mente como uma máxima. Ele disse o seguinte: Ninguém, Mas Ninguém, ganha nenhum torneio sem ter tido sorte em algum momento. Óbviamente se referindo a DDminis. Muito bem Paladine, todos estamos curiosos para saber. Quando você deu sorte no último campeonato, em que momento, em que partida, em que rolagem de dados aconteceu a famosa reviravolta que condena um a derrota e outro a vitória?PALADINE:Sim, aqui aparece finalmente o resto do meu segredo como jogador (risos). Nunca tive nenhum problema em admitir que sou MUITO sortudo nas miniaturas. Não sou daquele que tira muitos críticos, que acerta todos os ataques, etc, mas minha sorte aparece nos momentos que mais preciso e o azar do adversário no momento que ele menos pode ter azar. O que me atrai justamente nas miniaturas é o fato que a estratégia é importante, mas o fator sorte sempre vai estar ali. Como eu já disse acima, muitas partidas foram perdidas pelos meus adversários que cometeram erros bobos, então acho que não precisei contar tanto com a sorte dessa vez.
Agora, em duas partidas em especial, tive uma sorte a mais que ajudou bem. Na quinta rodada do primeiro dia, enfrentei o Lak Keller. Era para mim a variação mais forte dos dragões: triple LBD + Ryld Argith. Foi uma partida muito disputada e equilibrada até o fim. Até que no momento final eu ganhei a iniciativa (tendo 4 a menos) e o jogo. Na partida da final (nossa segunda partida), eu achei que o Lak já cometeu alguns erros mais primários e venci mais fácil, mas novamente ele teve bem mais azar que eu. Algo como dragões com moral + 16 falharem duas vezes e coisas do tipo.
Agora, a partida que mais tive sorte foi na semifinal contra o Valek. Ele era considerado o favorito para ser campeão e o time dele era bom para enfrentar o meu. Então, eu fiz a única coisa que poderia fazer. Na hora que ele cometeu o primeiro erro, eu fui para cima com tudo e deixei para resolver na iniciativa. Se eu perdesse a iniciativa, eu perderia uma peça muito importante e talvez o jogo, mas se eu ganhasse eu venceria o jogo. Ganhei a iniciativa e realmente venci o jogo.
E azar grande mesmo só tive a na primeira partida do brasileiro. O Veyvwar conseguiu logo na segunda rodada mandar a flecha da morte em uma das virtuous, que falhou e morreu. Fiquei o jogo todo correndo atrás do prejuízo. No final, eu precisava ganhar uma inicitiva e ter relativa sorte nos ataques, ou seja, ainda era bem possível, mas aí a Storm fugiu duas vezes na moral com + 15. Foram as duas únicas vezes que ela fugiu em todo o campeonato pelo menos, mas o meu adversário jogou melhor e realmente mereceu a vitória.
Então, chegamos a um resumo de que tipo de jogador eu sou. Sou estratégico, defensivo e calmo. Dificilmente vou pra cima se não tiver uma vantagem para fazê-lo. Todos meus movimentos são bem calculados (às vezes até lentos). Minha habilidade de jogar minis é mediana por assim dizer. Não estou entre os melhores jogadores. Minha sorte é razoável, não é do tipo que vence partidas impossíveis, mas costumo ter sorte, quando realmente preciso.
Meu último segredo então é uma grande capacidade de concentração. Eu dificilmente fico nervoso ou faço movimentos muito errados (exceto quando causados por minha falta de habilidade). Eu jogo de maneira fria e racional e sei quando é o momento de arriscar tudo. Ganhei muitos jogos pelos adversários se desesperaram e cometerem erros. Acho que isso resume meu estilo de jogo.
PAPA: Como você vê o crescimento do hobbie em nosso país? PALADINE: Em certo momento, eu achei que as miniaturas virariam o próximo Magic, pois o jogo estava se expandindo numa velocidade incrível. Quando chegamos no brasileiro de 2007, eu acreditei que logo poderíamos conquistar o mundo (risos), mas a realidade era outra. Infelizmente é um jogo caro e as tarifas e impostos no nosso país só tendem a dificultar ainda mais. A Devir (representante das miniaturas no Brasil) já mostrou que tem pouco interesse em manter o jogo, então eu vejo um ambiente problemático para o hobby se expandir, mas diferente do magic, pokemon e outros jogos, felizmente a comunidade de DDM é no geral muito amiga, muito disposta a fazer o jogo continuar vivo. Esse é um dos grandes motivos de eu jogar. Já não acredito que seremos um magic da vida, mas acredito que podemos manter um espaço bacana e ganhar um respaldo justamente por nosso empenho. Ao menos é o que eu gostaria que acontecesse.
PAPA: Muito bem dito. Não tenho nada a perguntar apenas acrescentar. Hoje posso dizer que concordamos em mais uma opinião. LOL. Compartilho o mesmo sentimento. Não se tem como esperar um grande crescimento de um jogo obviamente tão caro, mas acredito em uma união madura de pessoas voltadas ao redor de um hobbie. PALADINE: Sim, infelizmente o DDm 2.0 acabou sendo um golpe muito duro para o jogador brasileiro e a vindoura divisão de campeonatos tende a segregar ainda mais os jogadores. Digo que tempos difíceis estão vindo, mas que realmente espero que consigamos vencer e ficamos mais fortes para o futuro. Realmente não gostaria de ver DDM seguindo o mesmo caminho de Mage Knight.
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